Era uma vez o “país do futuro”


Do futuro; que nunca chega nem chegará. Era uma vez o país onde o adereço era mais importante que o apreço. Onde as pessoas eram extremamente otimistas que se permitiam afundar na lama e fingirem usá-la como fantasia, pois era Carnaval, tempo de alegria e tudo podia. Onde as pessoas eram capazes de deixar tudo “para lá”, para depois, para o futuro, pois naquela hora, do “agora”, era hora de futebol.
No país do futuro a Arte era bobagem ou luxo para poucos. Neste país a Educação acontecia, apesar de ser “coisa do futuro”. As regras eram criadas, bem como as exceções, pois tudo poderia ser modificado no futuro, no próximo período, pois por hora, no “agora”, era preciso aproveitar e se bronzear.
Era uma vez visionários que sabiam ser duros e corretos, foram considerados loucos e infelizes, pois pensavam demais no futuro e deixavam de ir à praia. No país onde o futuro era para ser pensado depois, as pessoas mais felizes foram aquelas que assistiram os programas televisivos dos canais abertos, dirigidos à massa, pois esta precisava de “entretenimento de qualidade” para esperar pelo futuro.
Era uma vez um país onde quase nenhum habitante estava disposto a abrir mão da ficção, pois era naquela em que viviam. Outros muitos cidadãos compunham facções bem alfabetizadas e se mantinham impunes por longos anos esperando a futura punição, que também nunca se materializava, posto que naquele “agora” a impunidade estava assegurada pelas altas Cortes de Justiça e tudo seria resolvido no futuro. Todos sabiam que o futuro os esperava e que seria um tempo de fatos brilhantes, acontecimentos estonteantes e que tudo mudaria; então já podiam comemorar antecipadamente com “aquela gelada” porque o amanhã, era só amanhã.
O país do futuro era quente e envolvente, cheio de gente; gente que queria viver como inocente, e assim puderam ser “gente” no presente para ser “alguém” no futuro. Era uma vez um país abençoado por Deus e bonito por natureza, onda a tristeza era rara. No país do futuro próspero tudo podia ser feito mais para frente, pois o futuro era algo ausente ou decadente!?
Os que nele viviam e reclamavam eram vistos como chatos, estariam bebendo pouco ou se preocupando demais. Os que o abandonaram foram culpados por não participarem da construção do futuro. Para os que partiam e voltavam a chegada era sempre comemorada, a estadia dolorosa e o futuro promissor. Sim, o futuro. Era um país de gente amigável e incansável; incontrolável e irremediável. Era uma vez o país “em festa” na maioria do tempo, pois precisavam aproveitar o presente. O presente era só o que tinham. O futuro era incerto, porém certamente melhor!
E o que seria deste “futuro” se não fosse essa gente que nele acreditou? O futuro que para eles nunca chegou!
by Ale Madia

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