Afetados pelo desafeto


Cada vez mais observo adultos imaturos, carentes, egoístas, com atitudes inseguras ou inconsequentes, e cada observação cuidadosa aponta, quase sempre, para a mesma causa – crianças negligenciadas emocionalmente se tornam adultos “despedaçados”, incapazes de administrar os próprios sentimentos; todos os sentimentos.
Há adultos “despedaçados” que colaram as partes e construíram uma personalidade admirável; são um presente na vida dos demais. Há adultos “despedaçados” que passam a vida reclamando dos seus pedaços e propagando estragos; são um enorme inconveniente na vida de todos. Há adultos que nunca souberam o que é ser “inteiro” porque não têm consciência de que estão “em pedaços” ainda; são maleáveis e talvez mais propensos à construção de “partes” apenas.
Há crianças “despedaçadas” que sonham em ser “inteiras” e se esforçam para sobreviver às adversidades emocionais; serão adultos compreensíveis.  Há crianças “despedaçadas” que habitam uma atmosfera hostil e influenciam as demais; serão adultos repetidores ou causadores das adversidades próprias e alheias. Há crianças “despedaçadas” prontas para que sejam moldadas, orientadas; serão adultos dependentes e carentes, se não o forem apropriadamente guiadas.
Não há necessidade de ter vasto conhecimento da psicologia humana para poder concluir que a exposição ao desafeto na infância causa estragos duradouros na vida adulta. Desafeto; falta de afeto! Não é privação de recursos materiais nem financeiros. Não é privação de presença física, mas emocional. É simplesmente poder se sentir amado, compreendido, acolhido e bem quisto pelo ser humano que se é. Não é apenas o toque físico; é muito mais. É o toque carinhoso que não é físico! É o sentimento! Não é palpável! É apenas visível para quem possui a percepção da importância dos gestos emocionais. É preciso apenas um olhar atento, sensível e constante.
Muitos pais, mães ou responsáveis são adultos completamente desconectados emocionalmente e psicologicamente de seus filhos, sejam eles biológicos ou não. Amam cada qual à sua maneira e demonstram seu amor das mais variadas formas. Erram e acertam diariamente na difícil tarefa da educação. Erram e consertam, ou erram e se desconsertam. São humanos na eterna tarefa da formação emocional.
É preciso, urgentemente, que cada um busque o seu jeito de demonstrar o seu afeto. Crianças e adultos necessitam deste gesto. Adultos afetados pelo desafeto não foram expostos corretamente ao laço fundamental do amor. Algo se perdeu na infância. Adultos que souberam o que é afeto enquanto crianças muito provavelmente são pessoas equilibradas, preparadas para a árdua missão de “colar” os pedaços que a vida há de apresentar.
Reflita sobre a qualidade dos “laços” que você possui, com crianças e adultos, e com você mesmo! Decida o que fazer com os “pedaços”, com os seus e com os alheios. Afete, positivamente, através dos gestos; do afeto! Observe, apropriadamente, os desafetos, de todas as idades. Seja você o gesto, o afeto; porém seja honesto! A criança de hoje será o propagador de lindos gestos ou o multiplicador do desafeto. Afeto, o coloque em cada gesto. Afeto, que se torne um manifesto!
by Ale Madia

Comentários