Insumos conscientes


Hoje somos todos insumos, sempre fomos, porém agora somos conscientes de nossa condição: seres aptos para o consumo. Agora mais do que nunca, somos apenas insumos pertencentes ao ciclo de consumismo exacerbado. Somos todos insumos para grandes corporações ou o insumo transformado e transformador das pequenas empresas. Somos transformados constantemente e ao mesmo tempo transformamos o consumo. Se consumimos marcas, tecnologias, informação, etc., estamos perpetuando o consumo de nós mesmos. Somos o insumo de uma marca quando a propagamos, além de ter contribuído para com o lucro ou receita da empresa que a gere. Replicamos esta cadeia insumo-consumo indefinidamente, sabendo que por ela estamos também sendo consumidos.
Somos seres potencialmente consumidos pela tecnologia e pela informação, a ponto de nos tornarmos o insumo principal deste ciclo. E como tal, somos também o insumo-agente transformador, consciente ou não. Somos o insumo com vontade, anseios e capacidades. Somos o insumo que traduz e externaliza o consumo do próprio insumo. Somos todos o insumo capaz de guiar, interferir, balizar o ciclo transformador-consumidor. Somos o insumo inconsequente quando o consentimos assim, ou o responsável pelas consequências do consumo que produzimos.
Com a perpetuação do amplo consumo em escala global e com a multiplicação acelerada das conexões, produzimos o tempo todo informação, a ser consumida por nós mesmos e por todos. Produzimos conhecimento capaz de gestar o consumo futuro, e assim somos o insumo deste. Expressamos necessidades impostas pelo consumo do qual nós mesmos fomos insumos.
Em tempos remotos tinha-se a sensação de que os seres humanos não eram insumos, apenas consumidores. Na verdade, éramos todos insumos inconscientemente. Com a velocidade das mudanças ocorridas na sociedade fomos passando de insumo sem noção de nosso papel na cadeia consumista para o principal insumo, conscientemente. Somos o insumo mais abrangente das sociedades contemporâneas, e inteligentes. Somos o insumo ativo e ao mesmo tempo o consumidor ativo-passivo. Permitimos explicita e implicitamente o consumo de nós mesmos. É um processo em curso. É um processo em que o ser-insumo consciente começa a questionar e dele procura se libertar, ou o modificar.
O consumo depende do insumo, porém o que temos agora é também o ser-insumo completamente dependente do consumo. Viveremos para analisar esta falácia. E como falácia, viveremos para analisar se o seu caráter acidental que se tornou essencial, ou se o essencial se tornou acidental. Por quanto tempo o ser-insumo-consumo sobreviverá? Será que este ser permutará esta falácia ou a aperfeiçoará? Como será? Aquele que viver verá!

by Ale Madia

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