Novo, ano, crenças


A influência que o calendário exerce sobre as crenças é intrigante, curioso eu diria. As datas estabelecidas funcionam como pontos cruciais onde as pessoas renovam suas crenças, reafirmam suas convicções, tomam decisões, fazem promessas e acreditam. Talvez acreditar seja a parte mais instigante, a que causa estranheza e desperta a esperança. Não pelo simples fato de acreditar, em qualquer coisa, mas pelo apelo que por si só dias ditos “D” provocam. Ao longo da vida o calendário foi sendo adaptado às novas crenças e às celebrações das sociedades, foi incorporando dias especiais em cada mês. A história da evolução do calendário é repleta de aportes de crenças pessoais ou de civilizações que nele inseriram seus interesses difusos e organizaram o tempo.
E o que fazemos com o tempo que consta no calendário registra nossa evolução. As datas que inserimos como merecedoras de rituais de adoração contam nossa história. E a cada um cabe a inserção de sua estória e a personalização de seu calendário. Se definimos um marco para certa ocasião, estabelecemos também ali a procriação de uma celebração. Definimos, por imitação, por tradição, ou por convicção, o que fazemos com o tempo medido pelo calendário. Nele depositamos nossas crenças, nutrimos a esperança, estabelecemos limites e difundimos promessas.
Para tudo aquilo que é novo decidimos apostar e acreditar em mudanças positivas. Para cada passagem de datas especiais resolvemos como lidar com nossas crenças. Para cada data estipulada ou personalizada prometemos mudanças. Para cada novo ano comprometimentos novos. Para cada calendário renovação de crenças e esperanças. Curiosa cegueira!
Os atos provenientes de decisões cotidianas são os que realmente influenciam os calendários individuais. As celebrações, do calendário institucionalizado pelas civilizações, são compostas por intervalos entre os dias tidos como comuns e os que devemos apreciar como especiais. No entanto, os dias contidos no calendário são uma sequência de datas nas quais apostamos em algo, outras nas quais vulneramos ou idolatramos algo, e muitas nas quais fingimos não perceber que algo está sempre a acontecer. E somos nós que fazemos com que aconteça!
Quando estipulamos datas para reflexões, para decisões ou para felicitações, estamos explicitando nossas crenças. Quando tomamos decisões, em qualquer data, estamos vivendo. Quando comemoramos o fato de poder viver mais um período, seja ele um dia, um mês, um ano, estamos celebrando o tempo, não necessariamente o calendário. Quando apostamos em renovação, num dia comum, estamos nos libertando de crenças alheias. Toda vez que, implicitamente, fazemos do dia aquilo que queremos, estamos escolhendo. A escolha de seguir as datas especiais, ou de criar outras, ou de ignorar o calendário, ou de vivenciar o próprio calendário, cabe a cada um.
O calendário é tão real quanto nossas escolhas. As datas são tão especiais quanto nossas decisões. O tempo é tão mensurável quanto nossas conquistas. Os minutos são tão preciosos quanto nossos pensamentos. As passagens dos anos são tão valoráveis quanto nossas atitudes. Os dias agrupados ou dispersos são tão inegáveis quanto nossos limites. Um novo período de tempo é tão fugaz quanto nossa vida. O novo é tão ilusório quanto nossas crenças.
by Ale Madia

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