Inquietações pictóricas

A influência que as imagens exercem sobre a mente humana é inegável. Somos constantemente alimentados por imagens ou representações visuais e estas, por sua vez, conversam incessantemente com nossos consciente e subconsciente. Num fluxo contínuo e interessante reproduzimos visualmente as inquietações de um mundo cada vez mais complexo. Nos sonhos nos libertamos da lógica, objetos e pessoas se justapõem inesperadamente e se organizam em imagens difíceis de serem elucidadas. Do processo ilusionista que ocorre entre a realidade e o pensamento surgem figuras, paisagens, interpretações, contradições, reconstruções e finalmente, expressões.

Expressões figurativas, produções escritas, ou outras formas de materializar o automatismo psíquico que muitas vezes se situam entre a materialidade da realidade e a liberdade da visão introspectiva de cada um. Essas obras são o produto de tentativas de concretização de inquietações pictóricas. O processo ilusionista nem sempre se apresenta de maneira amistosa ou lógica para um observador. Poderá fazer sentido ou não. A valorização da fantasia, daquilo que pode parecer loucura, mas que na verdade é tão somente o produto de registros pitorescos – involuntários – que vêm à mente sem se preocupar com a lógica, provoca sentimentos diversos. Não há exemplo mais elucidador que o Surrealismo, onde o fluxo de ideias do subconsciente foi transformado em obras abstratas por diversos gênios da pintura.

Hoje, após transformações impensáveis ocorridas no mundo e nas sociedades, talvez o Surrealismo ainda seja o que melhor traduz o que acontece nas mentes humanas. Com tantos estímulos visuais e tecnologias da Era da Imagem, a releitura de obras surrealistas ainda é contemporânea. O encantamento visual, o fascínio das figuras sobrepostas, a conexão mental, a interpretação racional daquilo que é irreal ainda ocorre; com outras ferramentas que não mais o pincel. As tecnologias substituíram os pincéis surrealistas para tentar expressar meticulosamente o que a mente é capaz de criar. Interessante reconstrução no mundo da abstração!

by Ale Madia