Judicialização
Talvez esse
seja o fenômeno atual. Essa parece ter sido a única maneira encontrada para
resolver questões contemporâneas. As pessoas, aparentemente, perderam a
capacidade de solucionar conflitos dialogando. O consenso foi e tem sido
ignorado. O bom senso também. O senso comum tornou-se raridade e deu lugar a
uma infinidade de opiniões díspares. Sociedades cada vez mais polarizadas e
intolerantes têm sido protagonistas num mundo inconstante. Num cenário infeliz
vamos vivendo, atordoados por fatos e também por atos. Para onde temos ido? Onde buscamos soluções para nossas divergências? Para onde nossas inconsequências
tem nos levado enquanto sociedade moderna? Para o Poder Judiciário! Triste
constatação!
Aquilo que
deveria ser exceção tornou-se a regra, qual seja, quando não há mais
possibilidade de entendimento, apela-se. A ordem inversa e perversa apoderou-se
da maneira como resolvemos discordâncias. A resposta imposta, a decisão
judicial, os recursos, os recursos dos recursos, os entendimentos equivocados e
os ignorados, os conceitos discutíveis e as possibilidades cabíveis, tudo isso agora
figura como desfecho ideal. A ordem natural seria, primeiramente, ouvir ideias
conflitantes, ponderar, construtivamente alcançar a moderação, o convencimento,
e finalmente, a aceitação baseada no respeito. Esse deixou de ser o percurso
natural e foi substituído pelo eterno conflito. Onde foi parar a razão? Para
onde estamos caminhando? Se estamos tudo judicializando, devemos estar errando!
Ainda que
interesses antagônicos sejam inevitáveis, precisamos rever nosso modo de agir
como sociedade organizada diante de conflitos. Não é possível viver em uma
competição desenfreada por uma palavra final. A validade desta resposta pode
estar completamente equivocada, haja vista sua imposição. Se as sociedades
desejam a liberdade, precisam encontrar meios eficientes para salvaguardar a
pluralidade. Articuladores e pensadores contemporâneos precisam da eficácia
inegável do diálogo. O respeito se conquista, não se impõe. A harmonia se constrói
com o produto das diferenças devidamente respeitadas, e somente pode ser
mantida com revisões constantes e necessariamente construtivas. A
judicialização deve ser exceção, não a usual dona da razão!
by Ale Madia
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