Lucidez cotidiana


As escolhas sensatas de cada dia vão tentando trazer de volta o sentido para a vida, em meio ao cenário caótico em que nos encontramos. A realidade, por vezes, se confunde com sonho, pesadelo, delírio. Manter a lucidez é quase um desafio, uma tarefa árdua envolta em inverdades convenientes, percepções equivocadas, insanidades abundantes, cegueiras propositais e verdades impactantes. Manter-se lúcida requer coragem; não comodismo. O aparato da normalidade, o padrão equilibrado, a consciência e a clareza de pensamento são a nova ostentação.
No entanto, a ostentação mais frequente tem sido a do conflito, seguida pela dúvida. Nesse contexto é que a lucidez de todo dia deve mesmo ser ostentada. Valorizar tudo aquilo que for lúcido e assertivo se tornou algo disruptivo, para não dizer espantoso. A banalidade e a confusão mental têm prevalecido e sido utilizadas com veemência. A constância da loucura tem sido aceita como o novo paradigma; não sem indignação e resistência dos sobreviventes lúcidos, importante ressaltar.
O cotidiano preenchido por delírios absurdos, atrocidades e ofensas exige de nós o equilíbrio mental mais desafiador – a lucidez. A lucidez cotidiana num mar de informações reconectadas, verdades que precisam ser aprovadas, versões produzidas e revisitadas, assim tem sido; a vida habitada por loucuras desenfreadas. O cotidiano, todavia, esconde seu segredo.
O segredo da lucidez recomposta, um dia após o outro. Aos poucos e constante, assim é o pensamento lúcido. Extravasa sobriedade, está pautado por equilíbrio, por veracidade. A lucidez se ostenta na quietude, diariamente. O pensamento lúcido cotidiano é a base para o enfrentamento das tormentas, das escolhas que não fizemos e ainda assim precisamos manejar. O segredo da lucidez cotidiana reside, justamente, na dosagem perfeita entre sua constância e prudência; essa é a sua excelência.
A lucidez cotidiana poderá sempre ser atacada, mas não flexibilizada. É de natureza lúcida, a ponderação; não a exaltação. É também da natureza lúcida a indignação; não a resignação. A lucidez cotidiana com o caos convive, e a ele sobrevive! A lucidez é serena, e perene!

by Ale Madia

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