Olhar pueril


Para um mesmo ambiente, repleto de vida, acontecimentos e movimentos, é provável que nuances distintas estejam na descrição daquilo que se observa e do que acontece. A ingenuidade permite observar tudo com outros olhos. O foco do olhar pueril é completamente livre; é criterioso apenas em sua pureza. O valor atribuído a cada elemento do ambiente e tudo que nele estiver inserido é singelo e belo. Não se acanha e nem se prende a padrões ou restrições. A puerilidade muita explica, não complica. Ela descreve a natureza de tudo, a leveza e a destreza. O olhar pueril não julga; ele apenas atesta o estado puro daquilo que diante dele está; sem nada molestar. A infantilidade do olhar não é uma bobagem, na verdade é uma capacidade que instiga.
A capacidade de perceber, aceitar, formular usando os elementos que experimenta, assim é a puerilidade. Não tem intenção de ser hostil, nem tampouco servil; apenas pueril. Simplicidade que encanta e desperta o que há de bom em tudo que observa. Não há banalidade nem idade para o olhar pueril. Também não existe conflito ou atrito entre as suposições puras e as soluções simplistas da puerilidade. A ingenuidade está sempre atenta e desperta; mas não em estado de alerta. É leve, é solta!
Na imaturidade há também um padrão de verdade, de sublimidade, de capacidade atenuante. O olhar pueril é como um filtro do bem, da isenção; é motivação. Na comparação, o olhar pueril pode não ser visionário, porém é necessário, empresta sua tonalidade e pluralidade. A ingenuidade desperdiçada deveria ser cobiçada, pois ela é a única a captar padrões genuínos que serão fundamentais para a alquimia madura ter êxito. Um olhar pueril supera barreiras, fluindo e interagindo constantemente sem condicionamento. A puerilidade, subestimada, é que conecta olhares distantes, ausentes e impacientes. A frivolidade pode funcionar como um potente agregador, desinibidor, pois não carrega pudor. O olhar pueril é um excelente elemento articulador – e costuma ser arrebatador!

by Ale Madia

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