O ruído dos aflitos

O som agradável embala momentos e conduz nossas ações, emoções e percepções. A sonoridade desagradável é incômoda – ruído. Qualquer tipo de ruído perturba e causa um certo distúrbio naqueles que são afetados ativa ou passivamente pelo som inarmônico. O ruído é perceptível e atrapalha. A interferência de um ruído gera temor; desnecessário? Algumas vezes necessário; mas desproporcional? O ruído é o que faz soar algum tipo de alarme que faça sentido em dada situação. O ruído pode ser usado para precaução ou para intervenção. A aflição é a consequência direta do ruído. Os ruídos disfuncionais causam um rumor prolongado; são perturbadores e contraproducentes.

O ruído na comunicação é especificamente interessante e preocupante, pois acomete os interlocutores e também todos aqueles que fazem parte direta ou indiretamente deste aparato de informação acessível ou disponível. Uma análise mais aguçada e imparcial deixa transparecer, quase sempre, uma dificuldade extrema de comunicação e entendimento. A interpretação errônea, a maneira equivocada de se expressar verbalmente, a escrita irresponsável e inconsequente, são alguns aspectos presentes nos ruídos da comunicação. O alvoroço é inevitável quando todos estes aspectos compõem o diálogo; que aparenta pouco ou nenhum fundamento, forçosamente. É uma conversa de malucos; ou de aflitos despreparados.

O despreparo de inúmeros aflitos também é uma característica que contribui para o ruído, para o desentendimento generalizado ou fragmentado. O mais intrigante é observar, com clareza, que a impropriedade vocabular está no centro de muitos ruídos de comunicação. Algumas vezes por desconhecimento, outras por equívoco; e até por conveniência. A disposição, ou a falta dela, para a correta compreensão da mensagem que está sendo transmitida também é um agravante deste caótico debate. É uma sequência de atritos, de conflitos, de contradições e incompatibilidades. Também oportuno registrar a sonoridade aprazível de um debate saudável, onde a riqueza vocabular e sua pertinência estão constantemente sendo empregadas com inteligência e respeito. Ainda que presentes impulsos antagônicos, a capacidade de se expressar apropriadamente produz reflexão, interação genuína e compreensão. É uma sequência de pacificação, de reconhecimento de divergências, porém de desenvolvimento mútuo. Um diálogo onde os aflitos e os confusos podem ter a oportunidade de duvidar, discordar e mudar de opinião; com cortesia.

O domínio de um vocabulário e a assertividade comunicativa deveriam pautar todo e qualquer debate, público ou privado. As dificuldades são atenuadas quando há disposição para o verdadeiro diálogo. As aflições desaparecem quando há comprometimento e entendimento. Os ruídos deveriam ser exclusividade de emergências; reais. O domínio vocabular é o remédio mais contundente contra a manipulação da comunicação ruidosa exercida sobre, e pelos aflitos, desinteressados, iletrados e semianalfabetos, despreparados, equivocados e exacerbados. A moderação, a correta informação e a reflexão isenta são imbatíveis contra os ruídos da comunicação – constante educação!

by Ale Madia