Panoramas subestimados


Diante das últimas eclosões populares ao redor do mundo reações de espanto, surpresa; e também de concretização de conjecturas negadas. A explosão e a revolta nunca ocorrem tão inesperadamente como creem alguns, mas abalam muitos e surpreendem mais pela forma agressiva do que pelo conteúdo das demandas. A reivindicação pode ser interpretada como desproporcional, descabida, razoável, necessária, etc. As respostas às reivindicações também podem ser variadas, e classificadas tais como proporcionais às demandas ou não, razoáveis ou não, desnecessárias? São perspectivas diferentes para a mesma realidade; embora o mundo real possa ser relativizado de acordo com as realidades das minorias e da maioria. Onde houver desigualdade, de qualquer tipo, haverá probabilidade de contestação. Sempre que pautas minoritárias forem subestimadas ou suprimidas haverá descontentamento e questionamento. Toda vez que a maioria acreditar cegamente em sua imunidade suprema será, inevitavelmente, despertada por reações incômodas. É assim, sempre foi e será, em todo lugar!

Presenciamos no mundo, em diversos países, ao longo da história e ainda hoje – embates! Os motivos e as causas para os embates, por mais específicos que sejam, convergem para as questões mais vitais de qualquer sociedade, como território, poder, direitos e liberdades. Acomodar tudo isso na mesma equação tem sido uma tarefa de equilíbrio e de muitos desequilíbrios absurdos. O desentendimento generalizado, a incapacidade de empatia, a busca desenfreada pelo poder e a insaciedade se revelam a cada episódio real, mais brutais e destrutivos. Um panorama desolador onde todos perdem. Num cenário onde ceder é sinal de enfraquecimento constatamos que o que está sendo subestimada é a inteligência! Há tempos não vivemos em ilhas, nossa convivência depende de concessões construtivas, diálogos coerentes, comprometimento, engajamento e capacidade de superação.

As regras efetivas para convivência pacífica são as mesmas para um lar, uma instituição, para uma nação e também para a globalização. O autoritarismo e a tirania conduzem inequivocadamente à explosão contra o déspota em questão. As regras, todavia, de nada servirão quando impostas, assim serão apenas adornos de uma sociedade doente e carente condenada à revolta. A desigualdade passível de aceitação é aquela baseada na liberdade e na possibilidade de reequilíbrio constante de forças e mobilidade em direção à igualdade, mesmo que relativa. A única liderança respeitada, em qualquer contexto, é aquela admirada e reconhecida; pelos próprios incumbentes e por todos os demais, inclusive pelos discordantes. Pacificação não é sinônimo de concordância plena e absoluta, mas de acomodação de contradições e divergências em prol de um bem coletivo maior num dado espaço e contexto.

Não devemos subestimar a inferioridade, tampouco idolatrar a superioridade; ambos são conceitos fluídos e interdependentes – esta é a presunção em uma sociedade pulsante. A repressão e o uso de força são proporcionais à legitimidade do líder. O líder opressor não lidera sem fazer uso de força. E um líder só é legitimado quando é capaz de conduzir, e não de coibir. No imenso caldeirão de interesses difusos tudo estará sempre em ponto de ebulição, cabe aos líderes e aos cidadãos temperar e interagir constantemente para evitar a explosividade. Este é o panorama mundial, de observação incessante e de vigilância perseverante para a manutenção da fluidez e da sensatez; tanto da maioria quanto das minorias. Tanto a estabilidade quanto a fragilidade não devem ser subestimadas – esta é a nova ordem mundial!

by Ale Madia

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