Edição incomensurável
O novo normal é
a vida no modo edição incomensurável. Tudo é editável. Editar foto, texto,
falas, realidade! Editar, editar, editar! Limitar, ampliar, modificar! Edição
não é mais uma exceção, nem tampouco exclusividade; é um padrão.
Edição
limitada, que antes era cobiçada, agora é apenas uma expressão banalizada; ou
de tão usada ela se tornou natural, foi continuamente incorporada. Tudo o que
se pretende vender mais, e mais rapidamente, carrega o título de edição
limitada; desde um produto alimentício até uma obra literária. Extra, extra! Corram
todos, adquiram o seu exemplar; edição limitada! E assim consomem cegamente com
a sensação de integrar uma parcela reduzida e muito privilegiada.
Edição
exclusiva; notícia, informação! Edição de contexto, adequação! Tudo isso agora
é corriqueiro. Descontextualização e edição, precarização; algo comumente
presente nos meios de repetição e de divulgação. A precariedade tomou conta da
opinião, dos fatos, e da questão; porém a edição se tornou especialização a
trabalho do impacto do discurso na comunicação! Realidade, verdade, distorção,
tudo editado para manipular. Específica versão de realidade desconexa! Todavia
também tem edição séria, necessária e importante; edição que não é ficção, mas
um mecanismo profissional para fundamentar uma correta avaliação. O objetivo de
uma edição é válido quando é para constituir um todo fidedigno e coerente, para
tornar compreensível um conteúdo complexo; nunca é demais frisar!
Edição
comemorativa é legal! Sobretudo quando é para homenagear algo ou alguém
relevante! Interessante para marcar acontecimentos específicos que merecem
reconhecimento e não devem cair no esquecimento. Porém, vivemos também em tempos
de honrarias desenfreadas. São tantos títulos e condecorações! Vivam as edições
incomensuráveis para atender a necessidades de pleitos inócuos, inoportunos,
sem relevância! As edições deste tipo servem apenas de respaldo; enfeitam
paredes e descrições de títulos nas redes, confortam egos, adornam, reconhecem
e exaltam conteúdos já esvaziados e indivíduos inadequados ou incapacitados.
Não são bem os conteúdos que são comemorados; vale acentuar! Na verdade, são os
títulos degradados e ainda assim formalmente celebrados; acomodados na decadência
das hierarquias. Editados e ultrapassados!
Edição crítica
é raridade, no sentido de tentar reconstituir imparcialmente algo autêntico.
Edição definitiva também se tornou editável; de definitivo há apenas a certeza
da próxima edição. As edições limitáveis são as exceções. Afinal não figuram
mais com frequência nem espontaneidade. Estipulou-se uma nova roupagem para as
imagens ou padrões imperfeitos. Edição a serviço da adequação. Já que a
naturalidade e as edições precárias constrangem, não há razão para não utilizar
retoques incomensuráveis que geram satisfação. Edição da artificialidade a
mando da vontade!
Não há tantos
limites às edições; em certos casos não há limite algum. Para se alcançar um
determinado fim ou propósito, seja ele válido ou dúbio, as edições empregadas são,
de fato, as incomensuráveis. Alterar e combinar, criar para convencer ou
vender, editar para estabelecer ou distorcer. Edições são usadas para
corroborar as versões mais fácil e prontamente aceitas, as mais convincentes. E
o que são feitas das indigestas e inquietantes versões realistas? É possível
torná-las mais atraentes ou comoventes?
Editar, editar,
editar! Onde e quando será que poderemos verdadeiramente apreciar e mensurar as
edições? Será necessário ou plausível delimitar as edições!? Criar
certificações para as edições seria algo concebível!? Não editar!? Respeitar é
sinônimo de limitar edição!? Ou não? Afinal, edição é questão de opinião!? Ou
apenas o novo padrão!?
by Ale Madia
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