Visão

 

A visão de Angelina era diferente da visão de Geraldo. Angelina percebia melhor tudo o que se passava a seu redor, em alguns casos até mesmo podia prever o que iria acontecer. Geraldo não podia entender com clareza sua realidade, porém confiava e acreditava em divindades. Ele não desconfiava de nada nem acreditava em maldades. Angelina vivia em seus pensamentos, altivos e fluentes. Ela estava sempre desconfiada, de vez em quando preocupada. Angelina e Geraldo não se conheciam, até o dia em que a visão de um deles despertou a visão e a atenção do outro.

Neste despertar tudo parecia incomodar, inquietar; nada mais estava no lugar. Angelina tinha dificuldade para aceitar a visão de Geraldo, que na sua opinião era uma visão muito prejudicada e despreocupada. Geraldo se divertia em sua perplexidade diante da visão de Angelina, a qual para ele era quase uma alucinação. Ambos concordavam que outras visões existiam, entretanto não sabiam o que era consenso. Eram perfeitamente capazes de distinguir objetos, cores, formas e até silhuetas. Também percebiam contrastes, mas não se entendiam. Um tinha absoluta certeza do devaneio do outro. Os dois afirmavam, sem pudor, que o discernimento era algo fundamental. Tanto Geraldo quanto Angelina estavam certos de que apenas a sua compreensão, particular e peculiar, estava sempre correta. Os demais entendimentos não passavam de descontentamento ou divagação. Seguiam eles dois, relutantes, com suas visões.

Tudo mudou quando conheceram o Sr. Medianeiro. Era um sujeito, para eles esquisito, suspeito, em constante diálogo e que se moldava, concordava. Angelina acreditava que o Sr. Medianeiro era bastante flexível em suas visões e opiniões, e dele então desconfiava. Para Geraldo se tratava de um verdadeiro enviado, com um propósito quase divino. O Sr. Medianeiro já havia convivido, de certa maneira e em variadas ocasiões, com muitos Geraldos e Angelinas. Para ele nada era imutável, mas sim maleável e apropriável. Seu saber permitia compreender, antever, entender e estabelecer. O Sr. Medianeiro também tinha a quem recorrer, sempre! Se Angelina o definia como incapacitado e Geraldo o via como um enviado, nada disso o atingia. A única coisa com a qual ele se incomodaria, certamente, seria com a neutralização de sua habilidade de influenciar sem se fazer notar. O Sr. Medianeiro sabia e podia desfrutar do que a sua sabedoria era capaz de proporcionar.

Angelinas passarão, Geraldos se dissiparão na multidão! E influenciadores incógnitos perpetuarão, uma visão, uma situação, um padrão de compreensão?! Convincentes e envoltos Medianeiros permanecerão! Lúcida constatação!

 

by Ale Madia

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