Ballet das rugas

Movimentos graciosos que representam uma história, de vida. Muitos saltos e piruetas, passos ousados e descompassos inevitáveis. Equilíbrio sútil entre linhas e tempo, passos em compasso com o tempo. Um verdadeiro espetáculo onde as preciosas rugas revelam, sem embaraço, seus traços. Traços do tempo, as rugas são bailarinas contentes e experientes. Rugas amenas encenam o ballet dos tempos. Rugas amigas enriquecem o ballet dos bons ventos. Rugas valiosas que testemunham, sem receio, muitos anseios. O ballet das rugas é para ser valorizado, não evitado. Não há como negar a delicadeza de um ballet.

Olhos treinados são perfeitos para a honestidade das rugas. Linhas tênues, profundas ou marcantes – o charme das rugas é envolvente. Um ballet atraente. Rugas que não comprometem a beleza, apenas explicitam sua verdadeira natureza. Rugas são como são, não são mera opção. Rugas chegam mesmo sem permissão, e ignoram intervenção. Rugas são ostentação de experiência, de essência, de convivência, de muita paciência. O ballet das rugas não precisa estar sob holofotes constantes e atordoantes, as rugas bailam como e quando querem. O ballet das rugas se apresenta com graciosidade, no cotidiano dos bastidores. Escondem dores e dissabores, também rubores e fervores.

No palco da vida as rugas são o ballet mais autêntico para quem sabe apreciar a singeleza de linhas puras. Rugas bem tratadas, dançarinas que não podem ser apagadas. Rugas encantadas num sorriso são prestigiadas. É um ballet de movimentos imprecisos que estou a contemplar, prestes a completar quarenta e sete. Satisfeita e certa da imperfeição da composição das rugas que ainda virão e tudo adornarão! Rugas são linhas de inexatidão amenizadas pela aceitação. Rugas são belos traços de compreensão no ballet extraordinário da vivência! Rugas não são mera exuberância da aparência!

 

by Ale Madia

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