Uma certa girafa (01/04)
Passeando por agradáveis
alamedas e por vielas assustadoras, foi assim que uma girafa perdida foi
avistada. Por onde passava – incomodava, assustava, preocupava – os habitantes
mais desorientados que ela própria. Nas vastas alamedas onde o espaço era um
verdadeiro convite ao convívio harmonioso, a girafa era apreciada, embora sob
olhares desconfiados e passivamente surpresos. Quando nas vielas, a girafa era
temida, vista como invasora de um território que não possuía aptidão para hospedar
tamanha distração. A girafa estava confortável em sua exploração urbana, ainda
que inconveniente. Para as pessoas a indagação era comum, a curiosidade
natural, o receio recíproco!? Reciprocidade entre uma girafa e pessoas que se
intitulavam civilizadas e habitavam espaços majoritariamente urbanos!?
No espaço onde
a abundância era explícita, a estranha girafa não foi prontamente hostilizada. Havia
território suficiente para abrigá-la provisoriamente sem grandes transtornos.
Ela foi, de certa forma, respeitada e até admirada. Na precariedade das vielas
as pessoas se intimidaram com a imponência e com a tranquilidade da girafa.
Enquanto cada qual se ocupava com as impressões causadas pela visita tão
inesperada de uma girafa perdida, porém aparentemente despreocupada, ela apenas
seguia, sendo girafa.
Desfilando sua
exuberante beleza e inegável presença, aquela girafa despertou o singelo
interesse de um jovem atento e também de um idoso, já cansado de seu horizonte estreito
e monótono. A astuta girafa percebeu que tanto aquele jovem quanto aquele idoso
se sentiam sufocados pela paisagem onde viviam. Ambos demonstravam interesse e
curiosidade para experimentar novas paisagens – naturais. A girafa, o jovem e o
idoso possuíam ideais comuns, ao menos em relação aos espaços agradáveis e
salubres de convivência. Por isso eles reconheceram a nobreza daquela pacata
passagem da girafa pela cidade.
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by Ale Madia
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