Nosso imaginário
Alguém que
procura animar uma audiência tem sempre alguma utilidade. Um animador alimenta
esperanças. Palhaços ou animadores são necessários para atenuar duras ou dúbias
realidades e proporcionar diversão, distração, divagação. Convivemos com
palhaços eloquentes extraordinários, nossos e alheios, capazes de nos convencer
de que o riso é indispensável, e até mesmo de que as piores situações são
relevantes. Somos também convencidos por animadores criativos o tempo todo. Permitimos
que palhações e animadores nos façam acreditar que algo melhor sempre virá. No
nosso imaginário também é permitido em tudo acreditar. O riso fácil, o
pensamento positivo, um discurso convincente, qualquer truque é prontamente
aceito para evitar o desagradável cotidiano. Escapamos da realidade por curtos
períodos para renovar a imaginação e aprimorar nosso senso de humor. Uma fina e
primorosa combinação entre vida e arte, realidade e imaginação, uma composição
para nosso tempo, seja ele extraordinário ou precário.
O nosso tempo é
suportável com a presença de palhaços e com nosso ativo imaginário, ambos
fundamentais. Um tempo é animado quando permitimos que assim o seja. Vivemos
tempos impensáveis, ou não. Podemos animar ou desanimar, pensar, ignorar, rir
ou chorar, mas ainda assim temos a necessidade de acreditar. Acreditar é o que
nos permite sonhar, continuar, realizar, e até mesmo falhar. Os palhaços estão
por todo lugar e nós iremos com eles, inevitavelmente, nos deparar. Curiosamente,
os animadores encantadores estão dispersos e nós queremos que estejam por
perto. É incômodo pensar que a alegria sempre pode acabar, ou que a
graciosidade da vida não vai perdurar. Demoramos alguns anos para assimilar que
nem tudo é agradável, que nem todo palhaço é palatável e que nosso tempo pode
não ser tão animador. E enquanto não estivermos preparados para aceitar tudo
isto buscamos palhaços, animadores, figurantes – ou tentamos ser palhaços,
animadores, protagonistas, extraordinários ou precários.
Tanto na
realidade quanto em nosso imaginário nem tudo é sempre claro. Num circo há
palhaços, fora dos palcos também. Num programa há animadores, nos bastidores
também. Um espetáculo – é o que desejamos, para passar o tempo, para marcar um
momento, para capturar nossos pensamentos, para materializar nosso imaginar. Procuramos
algo espetacular! Na tribuna os eloquentes oradores nos convencem, ou não. Nas atuais
plataformas os repetitivos animadores nos conquistam, ou não. Palhaços buscam
aplausos, ou não. Animadores merecem atenção, ou não. Bajuladores de plantão
possuem alguma expressão, ou não. Imaginamos, ou não. Acreditamos, ou não. A
arte do pensar e viver é hilariante e estimulante! A diversão é contagiante, ou
não. A animação é passageira, ou não. A confusão é inevitável, ou não. Ambições
são plausíveis, ou não. Por vezes, podemos ser extraordinários, ou não. Palhaços
necessários, animadores precários, narradores convincentes, intenções,
reflexões, subterfúgios, úteis ou inúteis... Seja como for, a satisfação de
desejos e aspirações do intelecto é uma arte, praticada por palhaços, por nós
mesmos, por animadores... A realidade, o extraordinário, o precário,
estratagemas... a utilidade inquestionável do nosso imaginário!
by Ale Madia
Comentários
Postar um comentário
Seu ponto de vista é bem-vindo!