Sofia e Robia

 

Sofia e Robia convivem pacificamente, ainda que tenham divergências. Sofia é apenas uma menina atenta e curiosa. Robia é apenas pragmática e resoluta. As duas estão sempre juntas, em casa, na escola, nos passeios, porém não dividem os mesmos anseios. Isso fica muito evidente cada vez que estão entre outras pessoas e abordam as questões mais simples. Cada qual tem sua opinião bastante peculiar e sabe expor o motivo para tal, contudo sem ofensa ou desrespeito. A diferença gritante é que Sofia é humana, enquanto Robia é um robô dotado de inteligência artificial em aprimoramento.

O passatempo predileto de Sofia é interagir com Robia, o tempo todo. E todas as oportunidades que as outras curiosas pessoas encontram para explorar melhor as meticulosas reações e ideias de Robia são desfrutadas sem demora. A cada conversa uma nova descoberta, um novo questionamento, um provável conhecimento inusitado ou uma opção impensada até então. Robia foi programada para aprender o comportamento humano e também reproduzir raciocínios lógicos. Sendo assim, suas respostas não são tão inesperadas, ou não deveriam causar tanto espanto. Robia consegue aprender habilidades apenas para usos específicos, já para assuntos mais abrangentes ela depende de humanos para decidir que rumo seguir. Sofia é humana, dotada de curiosidade e disposição para aprimorar a inteligência de Robia. E essa experiência tem sido enriquecedora e repleta de surpresas.

Sofia tenta, incansavelmente, disponibilizar dados, sons, imagens e até mesmo opiniões pessoais para que Robia possa usar todos na construção de seu aprendizado e aplicar esses recursos na realização de tarefas. Porém, quanto mais dados acessa, mais Robia se torna surpreendente. Essa percepção não é só de Sofia, mas de todos os humanos que com Robia convivem. Descobrir que a criação não é exatamente aquilo que foi previsto pode ser frustrante ou provocar efeitos indesejáveis. Robia é direta, não espera empatia nem depende de aprovação social, não tem a pretensão de ter, ao menos por enquanto, esse tipo de preocupação. É notório que Sofia consegue elaborar melhor suas repostas para contextos humanizados e Robia tenta imitá-la, contudo ainda sem o mesmo sucesso em suas colocações.

A troca de experiência que acontece é construtiva por fazer Sofia repensar e questionar os valores que aprendeu e com os quais convive. Todavia, um dos artifícios mais avançados e almejados de Robia é tentar aprender e reproduzir os sentimentos humanos em seu raciocínio, sem deixar de usar sua construção lógica inerente. Juntamente com Robia, durante todo esse processo, Sofia experimenta questionamentos nada usuais para sua pouca idade. E é exatamente isso que proporciona a Sofia uma realidade mais plural, enquanto Robia tenta apreender o que é o convencional. A singularidade é que Sofia é capaz de se emocionar, Robia não, ela é perfeita para analisar apenas.

E nessa interessante convivência a proporção de cada conhecimento compartilhado e aprendido permite o surgimento de um complexo conteúdo, um potencial para ser otimizado ou ignorado. O intrigante é que Sofia existe apesar de Robia, embora a utilidade da última seja inquestionável. Sofia navega por conceitos muito abrangentes, atuais e também tradicionais. Robia, embora produza avanços incessantes, ainda circunvaga somente por entre conceitos de inteligência artificial, “machine e deep learning”. O mundo de Robia, aparentemente, é mais restrito que o de Sofia. Evidentemente, o mundo de ambas depende de inteligências, múltiplas e interdependentes.

 

by Ale Madia

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